terça-feira, 29 de março de 2011


A 14 de maio de 1929, Natal aguardava a chegada do "Jahu"


A HISTÓRIA DA AVIAÇÃO NO RIO GRANDE DO NORTE
TARCÍSIO MEDEIROS




(...)


Fins de abril, maio, junho de 1927, foram dias movimentadíssimos em Natal e para o mundo, por acontecimentos inusitados, envolvendo a avião da época.


Ao mesmo tempo, em regiões diferentes, eram programados vários vôos transoceânicos, abrindo "manchetes" nos jornais de todos os países.


Para a travessia do Atlântico Sul, interessando o brasil particularmente, estava o avião brasileiro "Jahu", tripulado e de propriedade de João Ribeiro de Barros, paulista de 26 anos; com os companheiros João Negrão, de 26 anos; Vasco Cinquini, filho de italianos, porém brasileiro de nascimento, com 27 anos, mecânico do campo dos Afonsos e o Capitão Newtom Braga, com 42 anos.


O raid seria Gênova-Dakar-Natal até Rio de Janeiro. Preparado para o mesmo salto, de Rue (França)-Dakar-Natal, também desde abril, estava pronto o Marquês de Saint-Roman, com o 'Paris-Amérique-Latine'.


Pretendendo a travessia do Atlântico Norte, Europa-América do Norte, os franceses Nungesse e Coli tinham preparado o "Pássaro Azul", e de New York para Paris, Charles Lindbergh, o 'Saint-Louis', estando em jogo um prêmio no valor de 25.000 dólares.


Da Inglaterra, os Tenentes Carr e Gilman preparavam o vôo Inglaterra-Índia. Da Espanha, chegavam notícias da circunavegação do globo pretendia por Ruiz Alba e Padelo Roda.


Como se nota, estava-se presenciando um momento histórico da aviação: A conquista do espaço intercontinental contra o tempo numa provação de coragem humana e valorização de suas máquinas.


O "O Jahu" depois de fazer o percurso Gênova-Dakar sem acidentes, pelas 3,45h do dia 29 de abril, largava de Porto Praia para Natal. Estações de rádio mais variadas, montadas por todo o brasil e, especialmente em Fernando de Noronha, espalhavam notícias constantes da travessia, esperando-se que batesse o feito anterior do "Argos", então festivamente acolhido no Rio de Janeiro, e que chegasse primeiro a Natal do que de Saint-Roman.


Durante a tarde do mesmo dia, silenciaram as comunicações. O povo dormia nas calçadas dos jornais de várias cidades, aguardando notícias. Somente no dia seguinte, soube-se que o "Jahu", pelas 17:30, caíra a 100 milhas de Fernando de Noronha, por ter rompido uma hélice de um dos motores.


O navio "Belvedére", que passava no local, radiografou a triste nota, e que o "Angel Losi", mais próximo do sinistro, estava rebocando o "Jahu" para a ilha, nada tendo acontecido aos tripulantes.


O jornal "Á Pátria", que então era editado no Rio de Janeiro, achou de dar a notícia do acidente como motivado pela imperícia dos tripulantes do "Jahu", fato que não ocorrera com o "Argos". O povo que sofria apreensivo com o possível fracasso do avião brasileiro, rompeu num protesto violento contra o jornal, quebrando tudo, morrendo gente na confusão.


No dia 5 de maio, Ribeiro de Barros ainda aguardava a nova hélice em Fernando de Noronha, quando a imprensa anunciou a largada de Dakar para Natal do "Paris-Amérique-Latine" de Saint-Roman.


Então, o suspense foi martirizante.


Recife, 5 - "De Dakar informa que o 'Paris-Amérique-Latine' passou alto, pelas 12 horas, sobre os rochedos de São Pedro e São Paulo" - Expectativa.


Recife, 6 - "Depois das 18 horas de ontem, nenhuma notícia positiva veio mais sobre o 'Paris-Amérique-Latine'. As estações de rádio de Olinda e Fernando de Noronha têm estado em comunicação com os navios que cruzam o Atlântico, não conseguindo nenhuma informação do aparelho. O cabo francês também não recebeu notícia alguma. Parece que Saint-Roman anda fora de rota comum de navegação". Consternação geral.


Depois, de todo o mundo, chegavam pedidos de informações sobre o paradeiro do "louco sublime", como fora apelidado o simpático marquês. Organizaram-se buscas e mais buscas por todo o litoral brasileiro. Navios de vários países vasculharam o Atlântico Sul, e nada. Os mais desencontrados boatos davam Saint-Roman nas praias do Recife, Fortaleza, Maranhão até ás margens do São Francisco; ou que os destroços tinham batido no litoral de Massachussets, Estados Unidos.


Tão somente em 29 de junho, os restos do avião de Saint-Roman eram identificados no litoral brasileiro, entre o Maranhão e Pará. Mais um herói para a galeria da França, cujo drama emocionou as nações, especialmente o Rio Grande do Norte, que o esperou sempre.


Enquanto isto, no dia 10 de maio, chegavam informações de Paris de que o drama de Saint-Roman não abatera o ânimo dos tripulantes do "Pássaro Azul". No dia anterior, tinham partido para o "raid" Paris-Nova-York. Idêntico destino estava reservado para eles: Desapareceram também nas águas frias do Atlântico Norte.


A 14 de maio, finalmente, Natal aguardava a chegada do "Jahu", que, recuperado, partira de Fernando de Noronha, às 9,10h.


Multidão. Toda a cidade estava às margens do Potengi. Navios, embarcações de todos os tipos, engalanados em arcos de bandeiras multicores. Pelas 13 horas, o ronco dos motores cresce à medida que a silhueta vermelha avulta no horizonte, vinda do mar.


Quando numa curva sobrevoou Natal, o delírio foi indescritível: Palmas, gritos.


Baixando após a ponte de Igapó, na altura da Pedra do Rosário, suavemente, uma, duas vezes, toca as águas do Potengi e depois desliza até ás proximidades do Cais Tavares de Lyra, onde atracou numa bóia.


(...)

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