quinta-feira, 24 de março de 2011

HISTÓRIA DA FORTALEZA DOS REIS MAGOS

photo: Ianê Heusi

O Marco de Touros
Abril de 1500 - Navegador Pedro Álvares Cabral chega a Porto Seguro, 8ahia.
Agosto de 1501 - Navegador Gaspar de Lemos chanta o primeiro marco de posse portuguesa em terras do que viria a ser o Rio Grande do Norte. Era viagem de reconhecimento.
O Marco, feito em pedra lioz, apresenta, no primeiro terço, a Cruz da Ordem de Cristo em relevo e, abaixo, as armas do Rei de Portugal: cinco escudetes em cruz, com cinco besantes em santor, sem a bordadura dos castelos. Conhecido popularmente como Marco de Touros, é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
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Antecedentes
Portugal e Espanha buscavam um caminho para as índias nas últimas décadas do século XV.
Em 1492, Colombo descobre a América, acontecimento que leva Portugal e Espanha ao Tratado de Tordesilhas. A partir de uma linha imaginária meridional, a cem léguas a oeste dos Açores e de Cabo Verde, o mundo seria dividido: a leste, pertenceria a Portugal; a oeste, à Espanha.
O rei de Portugal, D. João III, em 1534, resolve dividir a terra brasileira em faixas, que partiam do litoral até a linha imaginária do Tratado de Tordesilhas.
Eram as chamadas Capitanias Hereditárias.
Ao norte da Baia da Traição, João de Barros, Fernão Álvares de Andrade e Aires da Cunha associaram-se para colonizar a maior delas, que incluía o atual território norte-riograndense. Todas as tentativas fracassaram, por naufrágios e por ataques de franceses e indígenas potiguaras.
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Os Tupis
A faixa litorânea era ocupada por índios agricultores, do grupo linguístico Tupi. Chegaram à região entre os anos 500 e 1000 de nossa era.
Eram sedentários, bem organizados socialmente, bons canoeiros e antropófagos. Orgulhosos, bons guerreiros, hábeis no arco e na flecha, bem como no uso da borduna, um tacape de madeira dura.
Seu principal plantio era o da mandioca. Produziam farinha. Sua cerâmica tinha influências da cultura marajoara, da Amazônia.
Dominavam toda a costa litorânea do Estado e grande parte do litoral cearense. Expulsaram os índios Tapuia para o interior.
Possuíam grandes aldeias em Igapó, Macaíba, às margens da Lagoa de Guaraíras, região de Georgino Avelino, rio Curimataú.
Guerreiros versáteis, formaram as forças auxiliares que atuaram na conquista e na expansão européia de nossa região.
Os Tapuias
As tribos tapuias eram temidas por todos os indígenas. Diferentes em suas maneiras de ser. Corredores incansáveis e velozes, somente os animais podiam competir com eles. Astutos e cheios de manhas, preparavam emboscadas e armadilhas para os outros. O vigor físico e a valentia desses guerreiros sempre foram características admiradas e respeitadas. Eram cautelosos quando iam à guerra. Ao avistarem seus inimigos, arremetiam contra eles numa rapidez sem igual. O barulho que faziam era ouvido ao longe, por entre as ramagens da caatinga ou da mata litorânea.
Exímios flecheiros, suas flechas certeiras eram letais. Excelentes rastreadores, seguiam os inimigos por lugares difíceis e ásperos. Conhecedores dos terrenos que palmilhavam, reconheciam todos os seus acidentes, o que Ihes permitia aparecer de surpresa por sobre as tropas européias.
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A construção da Fortaleza
Os franceses tentam colonizar o Rio de Janeiro e, derrotados, investem no pontal nordestino, onde achegam-se ao nativo e vivem como igual, para levar pau-brasil a partir das calmarias dos ancoradouros como os do rio Potengi e praias de Búzios, Tabatinga, Pititinga.
Os vizinhos da Paraíba e Olinda sentiam-se incomodados. Os franceses, junto aos potiguaras, invadiam engenhos, fazendas e povoados, saqueando e matando.
Felipe II, rei de Portugal e Espanha, atende aos apelos portugueses para defender as terras asseguradas pelo Tratado de Tordesilhas.
Na desembocadura do Potengi, o rio Grande, haveria de ter uma Fortaleza e uma cidade seria plantada, para ajudar à defesa e ao domínio das terras ao Norte.
Em 25 de dezembro de 1597, chega à barra do Potengi uma esquadra comandada pelo Capitão-mor de Pernambuco, Manuel Mascarenhas Homem. Doze embarcações estão sob seu comando.
Por terra, vêm três companhias de infantes e uma de cavalarianos, sob ordens do capitão-mor da Paraíba, Feliciano Coelho.
Veio também o jesuíta Gaspar de Samperes, mestre em traças de engenharia, a quem coube desenhar a planta da paliçada que daria origem à Fortaleza.
Em seis de janeiro, deram inicio a construção do forte provisório, inaugurado meses depois, no dia de São João Batista.
O comando foi entregue a Jerônimo de Albuquerque e, mais tarde, a João Rodrigues Colaço.
A Fortaleza somente foi tornada segura e com as dimensões atuais, sob o trabalho de pedra e cal deixado pelo engenheiro-mor do Brasil, Francisco Frias de Mesquita, entre 1614 e 1628.
No caminho, a fundação de Natal, a 25 de dezembro de 1599, depois de firmado o Tratado Perpétuo de Paz e Aliança entre as nações potiguara e portuguesa, meses antes.
Uma capelinha erguida onde hoje está a matriz de Nossa Senhora da Apresentação, Praça André de Albuquerque, Cidade Alta, anunciou a intenção de cidade firmada, sonhada e decidida por Felipe II.

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O Domínio Holandês
Com a tomada de Olinda pelos holandeses, em 1630, a Fortaleza dos Reis Magos passa então a ser alvo de investidas dos batavos, que a 8 de dezembro de 1633, trazem 16 navios e dois mil homens. Desembarcam 800 soldados em Ponta Negra, para ajudar na tomada da Fortaleza, por terra e por mar.
Durante quatro dias, sob o comando do Capitão-mor Pero Mendes de Gouveia, gravemente ferido, a Fortaleza resistiu. Sem o seu consentimento, passou a domínio holandês.
Até 1654, chamou-se Castelo Keulen e mereceu visita, reforma e registro do Conde João Maurício de Nassau, representante da Companhia Holandesa das índias Ocidentais, acompanhado dos artistas Franz Post e Albert Eckhout.
Uma brava reação nativa e portuguesa estava sendo preparada contra a ocupação holandesa do Nordeste brasileiro. Felipe Camarão, sua mulher Clara e muitos guerreiros potiguaras estão nos primeiros combates contra a presença holandesa. No embate final, em Pernambuco, na lendária Batalha dos Guararapes, Camarão se destaca e é feito governador de todos os índios do Brasil.
Sem que um tiro tenha sido disparado, os holandeses, vencidos em Guararapes, abandonam a Fortaleza dos Reis Magos.

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Patrimônio Histórico Cultural
Depois, são anos dorminhocos, lentos, pequena população na Limpa, praia do Potengi, próxima ao Forte; mais gente na duna alta, onde sobrevivia a capelinha a demarcar a cidade que insistia em não ser cidade: uma rua principal, a Rua Grande, e outra que levava o nome de Rua do Caminho de Beber Água, hoje as Santo Antônio e da Conceição, caminho do rio Tissuru, ao sul.
No Forte, esteve preso Jaguarari, destacado chefe indígena. Também Lourival Açucena, primeiro poeta norte-rio-grandense.
Em 1817, o Nordeste conspirava contra a Coroa. Em Natal, André de Albuquerque Maranhão lidera um levante republicano. Governa, mas forças legalistas tomam o palácio, ferem-no mortalmente e o levam para as masmorras do Forte, onde falece sem atendimento médico e é depois arrastado até a igreja de Nossa Senhora da Apresentação, onde é sepultado.
A Fortaleza dos Reis Magos é o símbolo guardião do povo potiguar. Dela, partiu Jerônimo de Albuquerque para a conquista do Maranhão, Martins Soares Moreno das terras do Ceará, e Francisco Castelo Branco para fundar a cidade de Belém, no ímpeto de alcançar a Amazônia, sempre acompanhados de tropas indígenas.
Além de resistência, ela serviu de morada, suporte para farol de navegação, cadeia, bateria de artilharia de costa na Primeira Guerra Mundial e ações culturais. 
O monumento foi tombado pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 15 de janeiro de 1949 e, em 1965, foi incorporado ao patrimônio do Governo do Estado, através da Fundação José Augusto, que promoveu, nesse mesmo ano, sua primeira grande restauração.
A Fortaleza dos Reis Magos é hoje o primeiro destino turístico potiguar.


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Textos: Exposição Permanente na Fortaleza dos Reis Magos
Eduardo Alexandre
Walner Spencer (Tupis e Tapuias)

Ilustrações: Arte@Metro

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