sexta-feira, 1 de abril de 2011

Esplanada Silva Jardim, Ribeira





Esplanada Silva Jardim
Jeanne Nesi
In Caminhos de Natal

A Esplanada Silva Jardim, está localizada no bairro da Ribeira, perpendicular à avenida Duque de Caxias, na fronteira com o bairro das Rocas.
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A primeira data e sesmaria concedida no Rio Grande, pelo Capitão-Mor de Pernambuco, Manuel Mascarenhas Homem, ocorreu em 9 de janeiro de 1600, cujo beneficiário foi o Capitão-Mor do Rio Grande, João Rodrigues Colaço, o qual, no seu requerimento, alegava que "queria fazer umas casas no sítio que está escolhido para a Cidade, e dar princípio à povoação...”.

A terra concedida a João Rodrigues Colaço começava "em chãos distantes duzentas braças do Riacho da Ponte". Segundo análise procedida pelo pesquisador Olavo de Medeiros Filho, “tal distância nos leva à atual Esplanada SIlva Jardim”:

Um mapa da cidade de Natal, desenhado na 7ª década do século XIX, indica que o bairro da Ribeira terminava na atual Rua Ferreira Chaves e no Beco da Quarentena. A partir destes logradouros públicos, havia diversos sítios, cortados pelo chamado Caminho para a Fortaleza.

A Esplanada Silva Jardim foi aberta em data posterior ao ano de 1862, quando ocorreu a expansão do bairro da Ribeira. Freqüentemente as marés alagavam todo o espaço ocupado pelas Rocas, chegando à atual Silva Jardim, o que obrigava os seus moradores a percorrer uma grande curva, procurando os terrenos mais elevados, quando pretendiam se locomover para outros pontos da cidade.

Durante anos, vários estaleiros de construção naval ocupavam grande extensão da Esplanada. Ali eram construídos botes de pesca, pontões e canoas. Até o início do século XX, existia o estaleiro do mestre Felipe Benício da Silva, que faleceu em 10.11.1906.

Em 27 de junho de 1905, foi inaugurado o primeiro trecho de Natal iluminado a gás acetileno. A iluminação abrangia o trecho compreendido entre a Esplanada Silva Jardim e a Praça Augusto Severo. Somente em novembro do mesmo ano, a iluminação foi inaugurada na Cidade Alta.

Os primeiros bondes puxados a burro começaram a circular em 7 de setembro de 1908. Pertenciam à Companhia Ferro Carril. O primeiro trecho inaugurado iniciava-se na Esplanada Silva Jardim e os bondes percorriam a Ribeira, depois vencendo dificultosamente a ladeira correspondente à atual Junqueira Aires, até atingir a Praça Padre João Maria.

Em 10 de fevereiro de 1909, ocorreu na Esplanada o primeiro acidente provocado por bonde, em Natal. O garoto Antônio Pereira Dias, atingido pelo veículo, perdeu uma perna.

A euforia provocada pela vitória do Movimento Republicano, em 1889, influenciou a denominação daquele importante logradouro público da Zona de Preservação Histórica de Natal, que ganhou a denominação de Esplanada Silva Jardim.

Antônio da Silva Jardim nasceu no Rio de Janeiro, em 1860, filho de um modesto professor primário, com quem aprendeu as primeiras letras. Em 1874, o rapaz ingressou no Mosteiro de São Bento, ali passando a estudar Português, Francês, Geografia e Latim. Logo interessou-se pela política, redigindo então um jornal estudantil, intitulado "Labarum Lítteraríd'. Seus ideais de liberdade já se manifestavam aos 15 anos de idade, quando escreveu, naquele jornal, um artigo condenando o Absolutismo.

Em 1877, Silva Jardim transferiu-se para São Paulo, ingressando no ano seguinte na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Participou ativamente das sociedades literárias da época. Criticava os costumes acadêmicos de então e debatia abertamente as idéias abolicionistas e republicanas.

Silva Jardim não se limitava a pregar a libertação dos escravos. Organizou fugas de escravos das fazendas, dedicando-se como advogado à defesa de causas dos escravos. Filiou-se ao Partido Republicano e visitou várias cidades, propagando os seus ideais.

Chegou a Natal em 18 de junho de 1889, a bordo do mesmo vapor em que viajava o Conde d'Eu, consorte da Princesa Isabel. Silva Jardim não intimidou­se em fazer abertamente propaganda republicana. Em Natal, Silva Jardim foi saudado por Brás de Andrade Melo, no Clube Republicano Acadêmico.

Com a Proclamação da República, Silva Jardim candidatou-se ao Congresso, pelo Distrito Federal. Foi derrotado e sentiu-se alijado do processo político. Desgostoso, partiu para a Itália, em 1890. No ano seguinte, em visita ao vulcão Vesúvio, foi tragado pela cratera. No mesmo ano, foi publicado o seu Livro "Campanhas de um Propagandista".

A Intendência Municipal de Natal, homenageou o grande republicano, denominando de Silva Jardim aquele importante logradouro da cidade.

Vários prédios importantes se ergueram ao longo da Esplanada Silva Jardim. O Hotel da Bimoa, a mais conhecida hospedaria de Natal, no século XIX, ficava localizada na esquina leste da rua Frei Miguelinho com a rua Silva Jardim.

Em 25 de março de 1900, inaugurava-se ali o Derby Clube Natalense, trazendo uma grande movimentação àquela rua, onde eram realizadas corridas de cavalos.

Em 1906 era inaugurado o prédio da Estação Central da Estrada de Ferro, que funcionou como estação de passageiros, escritório da Estrada de Ferro Central do Rio Grande. Ali, em 1916 foram construídas as oficinas da estrada, anexas ao prédio e destinadas à manutenção dos trens.

Em 1968, aquele prédio foi desativado como escritório da Estrada de Ferro, passando então a abrigar algumas repartições públicas. Atualmente suas dependências acham-se ocupadas por uma escola estadual. Trata-se de um prédio majestoso, com partido de planta retangular, desenvolvido em dois pavimentos. Possui fachada de composição perfeitamente simétrica, em relação ao acesso principal, que é feito através de um pórtico de entrada, em arcadas, encimado por uma torre central.

No mesmo logradouro foram também construídos dois importantes prédios: a Delegacia Fiscal e a Delegacia da Receita Federal. O primeiro foi edificado em meados do século XX, na esquina da Silva Jardim com Duque de Caxias. A Delegacia Fiscal foi oficialmente inaugurada às 15:00 horas do dia 10 de julho de 1955, na presença de autoridades civis, militares e eclesiásticas. Trata-se de um prédio de expressivo valor arquitetônico. Apresenta fachadas principal e laterais assumindo um único bloco. Acha-­se implantado no alinhamento da rua e possui planta quadrangular, desenvolvida em três pavimentos. Seu aspecto externo é harmonioso e monumental. Uma barra de mármore, com aproximadamente 1,80 metro, reveste toda sua parte inferior externa. Possui cobertura arrematada por platibanda e uma única marquise, que contorna toda a parte superior do prédio. Logo abaixo da marquise, sobre a entrada do edifício, encontra-se o brasão da República e, nas laterais, inscrições que identificam o prédio: Ministério da Fazenda - Delegacia.

O edifício da Delegacia da Receita Federal foi construído na Silva Jardim, nº 83, em 1928, com a finalidade de abrigar a Alfândega de Natal. Sua inauguração ocorreu aos 15 de dezembro de 1928. Trata-se de uma edificação de significativo valor arquitetônico, implantada no alinhamento da rua e desenvolvida em dois pavimentos. Possui fachada simétrica, emoldurada por cornijas e cunhais. Uma pequena escadaria de acesso valoriza a entrada principal do edifício, que é feita através de uma porta ligeiramente arqueada, de grade de ferro, com as iniciais AN (Alfândega de Natal). Essa porta localiza-se na parte central do edifício e é ladeada por duas colunas, cuja função é a de apoiar a sacada do pavimento superior.

No cruzamento da Esplanada Silva Jardim com a avenida Duque de Caxias, existe uma árvore bicentenária, a Castanhola da Ribeira (Terminalia Catappa Linn, da família das Cobretáceas). Foi ela, há algum tempo, batizada como a "Árvore da Cidade", uma verdadeira testemunha da história de Natal.

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